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Legado

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A minha geração já nasceu com a Liberdade como um direito adquirido. Não sabemos, nem mesmo agora, o que significa realmente não a ter. Não sabemos. Por mais relatos históricos que ouçamos, por mais que possamos ler sobre aqueles 41 anos (quase a minha idade...), por mais documentários que vejamos, não sabemos. Porque não os vivemos, não os sentimos, não os sofremos... Nem festejámos ou sentimos a emoção desta conquista. A Liberdade foi-nos "simplesmente" legada. Por isso é ainda mais importante que a valorizemos. Porque nos abriram o caminho, nos facilitaram a existência e a convivência, nos permitiram ter hoje a vida que temos. Mas o exercício de qualquer direito tem como contrapartida responsabilidade e responsabilização. E temos todos, cada vez mais, a imensa responsabilidade e o desafio, cada vez maior no mundo como hoje o conhecemos, de não permitirmos que este direito individual seja usado de forma coletivamente abusiva, opressiva, humanamente inadmissível, sobre o o

O essencial...

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Acordei com o som do mar revolto e, agora à janela, consigo ver a espuma das ondas, o que, dada a distância, é suficientemente revelador da sua fúria. Imagino que seja o Adamastor a perguntar àquelas pessoas que ainda conseguiram cá chegar o que raio vieram para cá fazer... Estou em casa com as minhas duas filhas e isso não me entristece nem angustia, apesar do meu verbo preferido continuar a ser o verbo IR. Estou habituada a estar longe da família e de parte dos amigos. A perder uma série de eventos familiares e sociais porque não tenho os superpoderes da omnipresença e do teletransporte. A querer ir onde nem sempre posso. A ter de estar onde nem sempre quero. É triste, mas a pessoa habitua-se. Por isso, não sinto aquele choque de corte de relações presenciais que muitos de vocês estão a sentir, mesmo tendo saudades. O que acontece é que o sinto mais em relação às pessoas que estavam sempre perto e à distância das rotinas diárias. Mas nestas circunstâncias não ouso queixar-me por

Ter de sair

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Juro que não sei como é que ainda há pessoas que se passeiam por aí (onde é que vão mesmo?!) como se nada fosse ou que querem ir sei lá para onde na Páscoa, segundo se diz... Eu precisava de quatro bens essenciais e andei a resistir até sair. Não ia ao supermercado (pequeno) que tenho a dois passos de casa talvez há três semanas. Não precisei porque antes de me isolar comprei numa superfície maior tudo o que podia precisar (sem abusar) e no domingo passado, na falta sobretudo de alguns frescos, fui ali à serra, à mercearia de uma amiga. Fiz as compras por vídeo-chamada com ela a partir de casa (muito à frente!) e depois foi só lá ir buscar e pagar. Só que hoje tinha mesmo que ir. Encontrei uma fila civilizada de umas seis pessoas à porta, entrando à vez, por cada pessoa que saía. Constrangeu-me este deparar pela primeira vez com a realidade prática da coisa. Nunca pensei, como toda a gente, que um dia ia passar por isto. Senti um aperto no peito. Enquanto esperava, vi uma senhora sai

Era hoje...

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Era hoje, Vero. Devíamos estar em Lisboa, a correr juntas, com a adrenalina lá no topo, o sorriso mais rasgado que nunca, os nervos à flor da pele e a garra de chegar ao fim a ser mais forte que tudo... (Pelo menos foi assim que imaginei). Há anos que sonhava atravessar a minha ponte a correr. Mas sonhava baixinho. Era na Mini sempre que pensava. Só que surgia sempre qualquer imprevisto ou obstáculo e não dava. Desta vez é que era...! Seria a Meia, só porque...! Achei que era por isso que nunca antes tinha acontecido. Agora seria ainda melhor... Fui eu que te desafiei mas foste tu que me fizeste acreditar que conseguia. Começámos a treinar juntas há 4 meses. E nem eu tinha noção da dificuldade e da minha capacidade de superação. Sou assim. Às vezes lanço-me num desafio sem pensar muito e depois não há voltar a dar. A obstinação ajuda a não parar. Já devia saber que nunca podemos dar nada por garantido e mais depressa duvidei que conseguisse chegar ao fim do que nem chegasse a lá i

#euficoemcasa

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[Dia 7] Sem um único café, não sei explicar como. Tenho máquina e cápsulas e pura e simplesmente não me lembro de fazer café nem me tem feito falta, repito, não sei explicar como. MAS... Tenho-lhe dado bem no chocolate amargo que tive a ideia luminosa de comprar enquanto deixava o papel higiénico para aqueles outros seres iluminados. O chocolate, é sabido, aumenta a sensação de bem-estar graças à endorfina (que reduz o stress), à serotonina (que é um potente antidepressivo) e à anandamida ou “substância da felicidade” (por possuir propriedades ansiolíticas, entre outras). Mas há por aí muita gente que produz os mesmos efeitos e que neste momento admiro ainda mais do que em circunstâncias normais. Hoje o dia é dedicado precisamente à felicidade... E porque o chocolate ajuda mas não é daí que essencialmente ela tem vindo, em pormenores, no meio do caos, era aqui que queria chegar. É que a adversidade revela sempre o lado mais humano e sensível das pessoas e isto tudo tem para mim u

Em que estás a pensar?

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A mim ainda ninguém me perguntou em que estou a pensar mas não julguem que eu não tenho cá as minhas ideias e olhem que nestes últimos dias tenho refletido bastante… Então cá vai o meu ponto de vista fofinho, só para desanuviar: “Covidizer” que anda para aí um bicharoco que não se deixa ver mas parece que tem a mania que é grande, forte e mete medo a toda a gente… E estou aqui num grande dilema moral entre considerá-lo uma ameaça ou um aliado, ainda que muito desonesto e desleal. Calma, não se zanguem já comigo e deixem-me explicar…! É que a minha vida também tem mudado muito nos últimos dias, só que para melhor (confesso, muito envergonhada, mas é verdade…) Quarentena? Fechada em casa vivo eu há 2 anos e mesmo assim sou muito mais feliz do que muitos que vivem confinados a uma gaiola (e fechada, imaginem!) Eu sempre andei pela casa mas os quartos das manas e a sala sempre me foram vedados. Sabem, é que tenho uma apetência especial para roer fios e até aqui só o quarto da mãe e

Obrigada, 2019...

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Em 2019 fiz 40 anos. Eu, uma série de bons amigos, o Serviço Nacional de Saúde, a Rádio Comercial (Vasco Palmeirim incluído!), o Mini Preço, os Xutos e Pontapés, o Walkman, o capacete amarelo do Ayrton Senna... A carreira literária do António Lobo Antunes... E, 40 anos depois de lançado o seu primeiro livro e 8 anos depois de lhe ter escrito uma carta (à boleia dos 60 da minha mãe), tive o privilégio de o conhecer (sim, o António Lobo Antunes). Momento que, com a minha "Memória de Elefante"', jamais vou esquecer. Entretanto, digo sempre que não gosto de balanços e que prefiro olhar para a frente mas é inevitável olhar uma última vez para trás e deixar partir a dor sentida por quem também partiu em 2019 mas tanto de si nos deixou, sobretudo a alegria de viver e a certeza de que só a sorrir gostariam de nos ver... E a sorrir voou mais um ano. De muito trabalho mas com uma equipa fantástica que tem conseguido fazer a diferença. De momentos únicos, de passeios e viagens em