Vazio
A pior coisa na
vida é, imagino, porque só poderá ser, a perda de um filho.
A nossa morte não
bate à porta nem pede licença para entrar. Simplesmente arromba a nossa vida e
acaba com tudo, sem dor, sem angústia, sem consciência, pelo menos no momento
exato em que chega. (Sofrimento de doenças prolongadas à parte…)
Coisa bem diferente
será a morte de um filho. Essa transforma facilmente uma mãe ou um pai num
morto vivo. Mata-o lentamente, dia após dia, numa espécie de eterna tortura.
Pode respirar, andar, amar e até sorrir mas de alma e coração despedaçados até
ao seu próprio fim.
Um filho é um
prolongamento da existência de seus pais, é a união dessas duas faces que, por
uma vida inteira ou por instante que seja, foram metades de um encaixe perfeito.
É a sua maior herança para este imenso mundo. Sim, é suposto que deixem e não
que sejam deixados! E, ainda assim, partem tantos filhos antes dos pais todos
os dias, por vezes de forma tão estúpida, tão cruel ou mesmo tão irónica… Que
tristeza, que tormenta, que angústia, que medo…!
Pode ser o estupor
do “descuido” A, ou o raio do
acidente B ou a sacana da doença C. Será sempre inesperado, prematuro,
revoltante...
Mesmo na pior das
perspetivas, uma mãe ou um pai não perdem a esperança. Aguentam-se, firmes no
amor, crentes na vitória até ao fim. É assim que funciona. É assim que tem de
ser, mesmo quando acabam por perder a guerra ao fim de várias vitórias em
pequenas grandes batalhas.
Seja como for, qualquer
A, B ou C que esteja na origem do fim é inconstitucional perante a lei da
natureza parental. Simplesmente não é justo, não é previsível e muito menos
aceitável.
Quem passa por
tamanha provação jamais conhecerá dor maior. Pode seguir em frente, aguentar a
infelicidade, a raiva, o desgosto… Superar, de alguma forma, digamos… Todavia,
o vazio deixado permanece como terreno árido onde nada mais floresce, para
sempre.
Não há preparação
para algo assim. Não há garantia, seguro ou manual de instruções que valham a
quem perdeu tudo, por mais intrujado que se possa sentir.
A ausência de um
filho não se compensa. A presença de um filho não se substitui. O buraco não se
tapa. O vazio não se preenche. Esta será, suponho, simplesmente a realidade mais
irreal de enfrentar.
Sofia Cardoso
20 de
fevereiro de 2013
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