Anos de Lã

A vida é mesmo uma meada de relações enroladas e por vezes até embaraçadas…! Vou puxá-la pela ponta em que está e desenrolá-la um bom bocado…
Conheço alguém que faz anos hoje, já uma bela soma, apesar de muito bem disfarçadinha. Quando se diz quantas décadas são, ninguém acredita. De resto, que importam os números? Importam, sim, as vivências e a pessoa de que e para quem escrevo tem uma coleção admirável delas.
No entanto, a sua existência faz-se de muitas mais coleções para além das vivências. Coleciona fotos, viagens, escritos… (E que profundidade têm os seus escritos…!) Tenho esperança que enrole a meada muito mais para que ainda venha O livro.
O mais engraçado, é que o reencontrei e só verdadeiramente aí o conheci, a título pessoal, há meia dúzia de anos mas faço parte das suas coleções há quase três décadas. Então, talvez devesse dizer que o reconheci.
Na verdade, não recordo o rosto por detrás da lente (tenho pena…). Recordo apenas (e já não é mau) os muitos abraços dados às árvores, de cabelo esvoaçante, posando para a lente da sua máquina desconhecedora da era digital.
Nem vou fazer contas para saber que idade tinha nessa altura da sua vida, talvez a idade que parece agora… De resto, novamente, que importam os números? No entanto, lembro-me que idade tinha eu… 6 anos… Precisamente a idade que tem agora a menor das meninas que me pertence, à frente da lente. Dava então, eu, os primeiros passos no mundo das letras, como ela os dá agora, também. Aprendia ainda a enrolá-las e agora desenrolo-as para si, quase 30 anos depois…
Fez parte da minha infância, eternizou o meu rosto da altura e desapareceu, rolando a vida em negativos de fotografias de colégios espalhados pelo país.
A meada continuou a enrolar-se, a enrolar-se e eis que a sua lente desata a eternizar momentos únicos de outras meadas feitas agora da minha lã… Assim, por acaso, a km de distância do ponto de partida da nossa história e sem saber.
O curioso da coincidência de uma amizade gigante comum… E, ainda, a afinidade nas letras que, imagine-se, até fez de nós, crescidos colegas de carteira, de volta à cidade de partida. E cá estamos hoje, 30 anos de acontecimentos enrolados entretanto, a trocar galhardetes literários e experiências no meio do emaranhado dos nossos dias.
Alguém que ambos bem conhecemos e estimamos, diz que eu sou a amiga dos pormenores e de muitas gavetas (um dia esmiuço isto num qualquer outro escrito…) Pois acho isto das coincidências das nossas meadas, uma delícia de pormenor que fiz questão que não ficasse na gaveta!
Desenrolando de uma vez…! Desejo, neste dia que será especial – por mais que ache que é só mais um de brincadeira pela vida – que a sua meada se vá enrolando mais e mais, influenciando outras meadas, e que a lã não acabe nem se embarace. Ainda pretendo escrever-lhe qualquer coisa de jeito quando chegar aos 100 a parecer 60 (isto se eu mesma não estiver já a enrolar a língua…). Aí, junto-me com as minhas “meadinhas” e escrevemos a três mãos…
Até lá, Um grande beijinho de parabéns pelo número feito de um oito que brinca com o zero que tem à direita como se este estivesse à esquerda.
E, por fim, enrolando as suas deixas com as minhas, fica o conselho: “sinta-se bem” com a pureza da lã da sua meada e que esta o continue a fazer “viver como quem brinca” e sempre com a mesma leveza!
 Sofia Cardoso
13 de fevereiro de 2015

Comentários

  1. Isto dito assim, nem dá para comentários, ficamos gagos até dos dedos, para escrever

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