Números mágicos

Existe uma cartola de memórias numa parte mágica do meu cérebro… Quanto mais retiro dela, mais momentos saltam cá para fora. Qual buraco negro invertido de datas e respetivas recordações.
Há quem não lhes ligue nenhuma (às datas…), nem tão pouco as memorize. Já eu, nasci com uma aptidão estranha para decorar números sucessiva e involuntariamente.
Com 35 anos, ainda recordo dias de aniversário de colegas da escola primária, números de matrícula de colegas de turma do secundário e, até há uns anos, números de telefone do tempo universitário…!
E nunca fui propriamente uma amante de números. Sempre preferi as letras.
Curioso. Mas, então, por que razão os números cá ficam? Fácil. Porque guardo bem as histórias e personagens que lhes estão associados. Apenas isso.
Podem ser enredos alegres ou tristes, feitos de sorrisos ou de lágrimas. Se marcaram profundamente, aquele dia imediatamente fica gravado na mente.
Há um fator que ajuda porque as películas de memória não são mudas e nenhum mágico faria um espetáculo silencioso. Da cartola, tudo o que sai, tem banda sonora e a cada surpresa recordada, a música daquela hora.
Os coelhos, lenços e pombas brancas são muito menos espaçosos e pesados do que alguns momentos bem passados mas servem apenas para dar show, iludindo os que assistem.
Já os números, que compõem determinadas datas, funcionam como bingo com direito a prémio, traduzido em viagens de volta a experiências exatas, reais, a lugares que ainda persistem.
É claro que podemos sempre viajar em fotografias, cuidadosa ou automaticamente datadas mas, nestas, todas as personagens estarão invariavelmente estagnadas.
A mim, por mais recordações que eternize em fotos, saber-me-á sempre melhor recordá-las devidamente contextualizadas, em movimento, ao som desta ou daquela melodia e poder, de facto, abraçá-las à minha maneira, sempre que queira, pelo menos enquanto a cabeça não perder a magia.


Sofia Cardoso
14 de junho de 2015

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