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A mostrar mensagens de agosto, 2015

Pouca-terra, muita conversa!

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Uma viagem de comboio é sempre uma animação. Histórias e conversas paralelas, nunca faltam mas a de hoje superou as expectativas. Numa qualquer paragem do Algarve, a cujo nome nem liguei, entrou um casal, dos seus setenta e muitos, presumo, mesmo castiço. Ele, acelerado, com a sua mala antiga, quase de cartão, qual emigrante que, vim a perceber, foi em França. Ela , lá atrás, não querendo saber do número do lugar marcado e a querer, em qualquer um, aterrar. Algarvio já marafado, ele insiste em procurar o seu lugar, refilando: «ma que jêtos… Nã me vou sentar no lugar dos outros!» Algarvia descontraída, ela continua a teimar que podiam sentar-se num qualquer e se aparecesse alguém… (Aqui, já eu sorria…) Venceram, o bom senso e a persistência dele, e lá se sentaram nos seus devidos lugares, permanecendo em silêncio. Seria por pouco tempo… Sentada sozinha, viajava, do outro lado da coxia, uma moça que estava a pedir conversa. Força de expressão, claro! Na verdade, a coitada não

Braveheart

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Dizerem-te constantemente que és forte/corajoso é semelhante a oferecerem-te um doce envenenado. A parte doce é a que embucha o teu ego, quando sentes reconhecido o teu esforço, a tua capacidade de lutar, por alguém que te admira e se orgulha de seres assim. Já a parte envenenada é a que te agonia, quando te faz sentir entre a espada e a parede, por alguém que vê nessa tua capacidade apenas uma facilidade gratuita que quase te obriga a continuar a aguentar tudo sem te queixares. A forma como o encaras quando o ouves, se como elogio reconfortante, se como constatação intimidante, depende obviamente de quem to dirige e do tom com que o faz. E depois também da forma como o interpretas. É fácil fazer a distinção e habituas-te facilmente à interpretação. Seja como for, não te iludas. Por mais que te sintas forte/corajoso no melhor dos sentidos, não és, nem nunca serás o Rambo . Lamento informar-te que ele não existe. E nem vale a pena tentares sequer aproximares-te da pele fictícia d

Tudo o que me deste

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Momentos como o desta noite deixam-me sempre alcoolizada de emoção e normalmente só no dia seguinte, sob ressaca musical, me lanço a escrever. No entanto, hoje não consigo desligar sem antes desbobinar porque amanhã é sempre tarde demais e preciso mesmo de fazer o que ainda não foi feito. Não sabia bem o que esperar de um concerto teu, em pleno verão, num espaço aberto, repleto de cadeiras ocupadas, com um palco ali tao perto, depois de te ter visto no Terreiro do Paço, repleto de pessoas de pé, com um palco lá tão longe, em pleno inverno… Começaste tão bem, viajando connosco, fazendo com que logo aí a cadeira tão atrás me começasse a fazer comichão. Puseste-nos à vontade para nos levantarmos e pouco depois estávamos lá no fundo para não incomodar quem se mantinha confortavelmente sentado. Daí até percebermos que, na verdade, de forma tão inesperada quanto desejada, querias mesmo era que nos aproximássemos para nos sentirmos, contigo, de regresso a casa, foi um saltinho e depressa

Recordando-te...

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Partiste há um ano… …Que dizer, neste dia? A vida seguiu, impiedosa, Obrigando a novo plano, Que renovasse a energia, Que te deixasse orgulhosa. Não eras de lamechices Nem quero ir por aí. Só que sem pieguices Preciso lembrar-te aqui. Porque sinto saudade, Não procuro esquecer E imagino-te a sorrir A ver-nos de verdade, A todas querer proteger, Não nos deixando cair. Eras feita de garra E é a essa inspiração Que a malta se amarra Para prosseguir a missão.  Sofia Cardoso 17 de agosto de 2015

Tronco

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A quantidade de histórias que contaria, se de uma boca se tratasse… A quantidade de fotos que eternizaria, se fosse uma lente de uma máquina fotográfica… A quantidade de sons que reproduziria, se tivesse as capacidades de um altifalante…  Contudo, não é uma boca, nem uma lente fotográfica e muito menos um altifalante. Qual “Big Brother” enraizado na terra, silencioso espectador da natureza humana, é muito superior a tudo isso. Desconheço-lhe a idade mas é intemporal no meu próprio tempo. Viu-me bebé, criança, adolescente, adulta e vai, muito provavelmente, ver-me envelhecer e sobreviver-me. Como eu, tantos que eu conheço e milhares de desconhecidos mais. Um exemplar perfeito do estoicismo da natureza, face à imperfeição exemplar do exibicionismo do homem que se pavoneia, todos os verões, diante de si e o deixa quase só, todos os invernos. De tudo um pouco Já deve ter visto e ouvido por aqui e ainda assim não se pronuncia. Limita-se a crescer, a embelezar a paisagem, a

Déjà vu

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Sei, no essencial, exatamente o que de ti herdei e, tirando a cabeleira forte, farta e (ainda não mas de futuro garantidamente) grisalha, o que passou para mim tem muito mais a ver com o interior do que com o exterior, com a forma de sentir, de amuar e de fugir para dentro, do que com gestos ou características físicas. E depois também o prazer nos petiscos, o gosto pelo piano, por ópera, pelo clássico, pela arte em geral, deixando de parte a literatura, mérito, entre outros, dos genes maternais. Só que hoje tive um déjà vu como nunca tinha tido, com que me impressionei como não me tinha impressionado com outras semelhanças ou lembranças até aqui e que ficou cá dentro, a fervilhar, até me obrigar a vir aqui dá-lo a conhecer, mesmo não tendo a certeza de o conseguir descrever. Basicamente, atirada para um pufe, recuperando da dádiva de sangue que fiz hoje, (e aqui, zero semelhanças contigo que eras “caguinchas” para caramba em matéria de hospitais…) a propósito de qualquer coment

Dolce fare niente

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Todos precisamos de parar de vez em quando. Sair da rotina, gozar o tempo pelo tempo, sem lhe dar nada ou pedir nada em troca… Hoje estou assim, parada, desfrutando apenas do prazer de não fazer nada. (E, ainda assim, escrevo!) A vida é muito intensa. Temos sempre muito em que pensar e por vezes pensamos em tudo e em todos menos em nós próprios, sobretudo quando temos família, filhos… É bom estar sempre ocupada, ter sempre o que fazer e em que pensar. Comigo não poderia ser diferente. Gosto de tarefas, de planos, de organizar os dias em função do que possa ter que fazer mas também preciso de estar comigo mesma e nem sempre isso é possível, ainda que necessário. Essencial, mesmo…! O segredo é fugir (vá, fingir que fugimos…!) Para descansar, para parar, para estar, simplesmente. Não ter horários, preocupação com refeições, sentirmo-nos livres, dormir, ler, passear, escrever… Há qualquer coisa de falso nesta pretensa liberdade porque quem é mãe, nunca se sente ve

Cena de uma noite de verão

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Oh, vida difícil…! Estou aqui indecisa entre deixar a janela aberta para me refrescar com a corrente de ar, pagando o preço de, com o som de um maldito karaoke levar (será karaoke ou um daqueles artistas que canta de tudo quanto não é seu…?) ou fechar a janela, em prol do silêncio, correndo o risco de sufocar. «Sexta-feira de agosto em terra de turista, esperavas o quê? Ainda não te habituaste?» Pergunto-me, repetidamente, sem no entanto me conformar, apesar de andar nisto há anos suficientes para “comer e calar”. É que a malta também dorme em agosto, sobretudo quem cá vive, mesmo que até esteja igualmente de férias. Os acordes acertados da guitarra são marginalizados pela voz estridente que parece agradar a quem vai aplaudindo entusiasticamente e eu aqui, com isto, a ficar doente. Adoro música ao vivo mas não assim, imposta de forma drástica ao ouvido. E também sou festeira, só não gosto que a festa me invada a casa, pela janela, mesmo sem me apetecer nela participar e sem