Cena de uma noite de verão
Oh, vida difícil…!
Estou aqui indecisa entre deixar a janela
aberta para me refrescar com a corrente de ar, pagando o preço de, com o som de
um maldito karaoke levar (será karaoke ou um daqueles artistas que canta de
tudo quanto não é seu…?) ou fechar a janela, em prol do silêncio, correndo o
risco de sufocar.
«Sexta-feira de agosto em terra de turista,
esperavas o quê? Ainda não te habituaste?» Pergunto-me, repetidamente, sem no
entanto me conformar, apesar de andar nisto há anos suficientes para “comer e
calar”.
É que a malta também dorme em agosto, sobretudo
quem cá vive, mesmo que até esteja igualmente de férias.
Os acordes acertados da guitarra são
marginalizados pela voz estridente que parece agradar a quem vai aplaudindo
entusiasticamente e eu aqui, com isto, a ficar doente.
Adoro música ao vivo mas não assim, imposta de
forma drástica ao ouvido. E também sou festeira, só não gosto que a festa me
invada a casa, pela janela, mesmo sem me apetecer nela participar e sem nada que quanto a isso possa fazer.
É quase uma da manhã e não durmo, nem ouço bem
a TV, nem leio, porque lá fora é o que se vê. Ou melhor, se ouve, ou se tolera
enquanto que cá dentro quase se desespera.
Não somos obrigados a gostar e desejar festa
diária ou sequer todos os fins-de-semana, somos? É que o principal sinónimo da
palavra férias é, curiosamente, descanso, o que implica alguma paz, sossego e silêncio.
Tanto mais se estivermos na nossa própria casa…
Calma, parece que alguém se calou e desandou.
Posso, finalmente, ler umas páginas do livro que tenho à cabeceira (se o sono
não me trair entretanto) enquanto lá fora os espectadores abandonam a vizinhança,
batendo as portas dos carros, uma atrás da outra, como se continuassem a
aplaudir, para depois, enfim, desligar a luz e conseguir dormir.
Hora de se deitarem, amigos, que a praia é mais
saudável logo ao amanhecer e alguns dos habitantes locais (conterrâneos, talvez…)
também estão de férias, se não se importarem.
Sofia
Cardoso
08 de agosto de 2015
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