À vela...

Ainda tenho a cabeça carregada de termos náuticos, os braços e joelhos doridos e o coração cheio…!
Curiosamente, apesar de viver há treze anos com o mar à porta, não punha o pé num veleiro há mais de quinze.
Noutra vida, passeei pelo Tejo, aventurei-me pelo Atlântico e o último desafio desses tempos foi a odisseia Lisboa – Algarve que começou com um pequeno enjoo logo à saída da barra (acontece aos melhores…) e terminou com uma insolação já em terras algarvias (ok, aconteceu-me a mim).
Hoje, ironicamente, são os ventos dessas mesmas terras que sopram a direção das velas da minha vida e apercebo-me da falta que sentia de muitas das paisagens que deixei para trás. E para quê? Para aprender a maior lição e a mais elementar, básica mesmo. A de que rigorosamente nada é seguro e de que pôr a mão no fogo por alguém pode mesmo resultar em queimadura de terceiro grau.
Seja como for, estou a desviar-me da rota que me trouxe ao leme da escrita.
Desafiada vezes sem conta a voltar a embarcar, por mais vontade que tivesse, a distância e as marés adversas mantiveram-me longe do cais durante tempo demais, até este fim de semana.
Habituada a assistir, de longe e em seco, à beleza do enquadramento de velas em regata, eis que me vejo, finalmente, duplamente participativa.
Na primeira, sem saber exatamente ao que ia, até porque já nem me lembrava da quantidade de cabos coloridos e nomes estranhos envolvidos, limitei-me a começar por observar, assimilar tudo quanto podia, fazendo o que o skipper pedia. E assim, naturalmente, já na fase de passeio, regata perdida, acabei por merecer a confiança de manobrar a vela grande. Bolas, é exigente, a dita!
Foi tão enriquecedora e gratificante esta minha estreia que não hesitei em oferecer a minha força anímica (e de braços, caso a quisessem…) para a regata do dia seguinte, não estando a tripulação ainda completa.
E quiseram, pois inacreditavelmente amarraram-me ao molinete de manobra da vela grande. Que responsabilidade…! "Caça, caça! Folga, folga!" Ufa, felizmente sou eficiente a cumprir instruções e a coisa até correu bem. Tão bem, que a par do excelente desempenho do resto da malta, ganhámos. Vá, na realidade, porque depois, também me ensinaram, existem aqueles desmancha-prazeres técnicos do rating e afins. (Detalhes…)
Interessa que uma equipa coesa (indispensável!), eficiente (necessário!), maioritariamente feminina (importante!), bem orientada (essencial!), disciplinada (obrigatório!), bem disposta (excelente!) e otimista (ideal!) só poderia resultar em sucesso e a vitória (de principiante, no que a mim diz respeito) soube maravilhosamente, confesso.
Ainda assim, espírito competitivo e adrenalina à parte, o mais marcante foi mesmo o gozo que a dupla experiência me deu. Quase de forma terapêutica, fez-me alhear completamente de toda e qualquer fonte de preocupação, sentir-me realizada, na companhia de amizades novas a partir de uma mais antiga renovada, divertida, entusiasmada.
Aprendi, reaprendi, revivi e vivi, o momento, o que é cada vez mais o meu intento.  
Velejar, ao sabor do vento, sem expectativas, medos ou lamentos, à bolina, acautelando a rotina de frente, apontando às melhores perspetivas.








Sofia Cardoso
07 de setembro de 2015

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