Avestruz
Fingir que não se vê e enfiar a cabeça na areia, qual avestruz, para
justificar não ver de facto, não me parece ser uma atitude muito inteligente.
As coisas acontecem, quer se queira quer não e esconder-nos não nos
protege, muito pelo contrário, deixa-nos curiosamente mais expostos ao
sofrimento. Desde logo, porque se não vemos o perigo chegar, não o podemos
evitar ou, pelo menos, acautelar. Se não o queremos ver ou prever, não
aprendemos a dele nos defender.
A coragem implica, à partida, reconhecimento da ameaça, da adversidade. E
querer constantemente negá-las, afirmando que está sempre tudo bem, ou
mascarando o que não está, pintando a realidade com tintas de quinta, não é
sinal de audácia, é evidência de fraqueza. De querer optar pelo caminho aparentemente
mais fácil mas que mais tarde se revelará muito mais penoso.
De qualquer forma, não dá para fingir para sempre porque o buraco no chão
vai abrindo, abrindo, e nem que seja à força vai revelando a verdade.
Não se ganha nada em adiar a realidade. Ao invés, perde-se tempo e por
vezes consome-se mais energia na resistência do que no combate.
Os buracos da vida não foram feitos para nos enfiarmos neles, com medo.
Foram feitos para nos ensinar a saltar, com bravura.
Tirar a cabeça da terra, ver, aceitar e tentar minimizar o impacto do que
acontece à nossa volta, talvez diminuísse alguma amargura.
Sofia Cardoso
12 de setembro de 2015
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