Metamorfose
Até 2015, era uma lagartinha que nunca se achou feia mas que se deixava
arrastar pelo que à sua volta via, sem grande ambição ou convicção no quão longe
poderia chegar.
Medo? Preguiça? Falta de tempo? Tudo razões plausíveis que um dia resolveu
contrariar, quando começou a sonhar e a querer acreditar. Então construiu, com
afinco, um casulo onde se fechou, durante um ano, sozinha a trabalhar. Durante
todo esse tempo, retirou de cada um dos seus 365 dias uma cor bonita com que se
pintar e foi-se transformando até criar um padrão que a fizesse brilhar.
Em 2016, já uma borboleta pronta para se apresentar, saiu do casulo, pelas
próprias asas, decidida e sem receio de fraquejar. Foi quando percebeu que
sabia voar e que nas mãos dos outros poderia pousar. Todos quantos agora a
podem admirar e para sempre preservar.
Assim a mera escrita se fez livro e a mera criadora se fez escritora.
Porque quando se sonha e se acredita só é preciso trabalhar, trabalhar, trabalhar...
E este processo todo, em que às vezes ainda é difícil acreditar, só prova
que vale sempre a pena não deixar de lutar, porque um dia se consegue e o que
ficou para trás foi só parte da construção do caminho para lá chegar.
Sofia Cardoso
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