Em segredo...
Inadvertidamente guiada até um compartimento
frio e sombrio, viu a porta fechar-se atrás de si, trancar-se, aprisionando-a
ao desalento.
Ali ficou, tempo demais, se não resignada,
calada, cansada, desligada, quase congelada...
Até ouvir, do outro lado, a tua voz, familiar,
forte, diferente, segura, meiga, num tom convincente.
Que, furtiva e inesperadamente, percorreu a
fechadura, despertando-a, aquecendo-a lentamente, fazendo-a acreditar
novamente.
Ouviu, respondeu, quis soltar-se para ir ao teu
encontro, sem porquês nem senãos, só guiada por aquela estranha mas
arrebatadora emoção. (Se verdadeira, porque não?)
Apercebeu-se, então, que não tinha a chave para
se libertar e aos poucos começou a gritar, revelando sem querer a vontade de se
salvar.
Não era tarde, ainda podia tentar e esperou
ansiosamente que a viesses destrancar.
Porque o segredo és tu (e até aqui só tu) que o
tens.
Não sabes como, nem ela o desejou.
Pensa: a vida deu-te a chave para quê? Abre os
olhos, vê!
Um sentimento sem definição (ou não...) que
reconhece - mas que julgava perdido - assim desvendado e que, não interessa
porquê, tudo mudou.
O medo do que haverá do outro lado existe, sim,
porque nada é garantido mas precisamos mesmo de ter tudo controlado?
Não te fiques pelo agora se o amanhã puder ser
demorado.
Pode não ser já, porque o que é genuíno deve
ser saboreado mas...
...A sério que sabendo-a ali vais deixá-la
ficar em vez de a resgatares para a teres contigo?
Sofia Cardoso
26 de junho de 2017
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