Linhas cruzadas


Não acredito propriamente no destino. Não no sentido de tudo estar prévia e romanticamente escrito nas estrelas. Até porque creio no livre-arbítrio e defendo-o, uma vez que a liberdade é um Valor que prezo particularmente (talvez até demais, assumo).
Mas (e há sempre um mas…) há coisas que nos acontecem, pessoas que cruzam o nosso caminho (ou nós o delas) que não podem ser meros acasos. «Não há coincidências» − diz-se, e eu acredito, porque há muitos pontinhos no desenho da minha vida que só podem estar interligados, mesmo que por uma linha invisível. Demoramos é demasiado tempo a ver os seus contornos, que é como quem diz, a atingir os porquês de certas circunstâncias.
Encontros, desencontros, ilusões, desilusões. Muitos dependem de atitudes ou de tomadas de posição. Muitos, não. Há muita coisa que buscamos, por que lutamos; como há muita que nunca encontramos, nem desejamos. Só que também somos, mesmo sem o perceber, encontrados, procurados ou não.
Há histórias de vida cruzadas que davam verdadeiros filmes, daqueles que puxam à lágrima de alguns, que nos fazem sonhar ou questionar “porque é que isto não acontece comigo…?” Conheço mesmo uma ou outra que podia jurar ter sido escrita, se não nas estrelas, algures no sonho de um autor romântico incurável qualquer. Sorte? Predisposição? Merecimento? Justiça? Ou o tal de destino, seja ele prévio à nossa existência ou constantemente redirecionado por alguém que algures zela por nós?...
Seja como for, o mérito não pode ser racional e exclusivamente nosso, porque há, de facto, muitas condições que não podemos prever, controlar ou evitar que às vezes alteram tudo, colocando-nos, também é verdade, em posição de aproveitar a oportunidade para tudo mudar (assim o saibamos ou tenhamos coragem para fazer).
Tudo isto é muito complexo mas confesso que, se há coisa que me dá gozo – ou não fosse eu menina de desafios – é precisamente a expectativa do desconhecido, o não saber o que vem a seguir, relativamente à minha própria vida. (Videntes não fazem negócio comigo.) De resto, quando já se foi surpreendida vezes suficientes com contrariedades demasiado desafiantes pela negativa, só se pode ter a certeza que o melhor está mesmo por vir. A tal bonança depois da tempestade (passe o clichê), ainda que pareça improvável ou que o tempo vá voando, sem que te apercebas qual será exatamente a ideia ou o “timing” do que te reserva o caminho que segues acreditando.


Sofia Cardoso
13 de janeiro de 2019


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Engolida Angústia

Semear bem para melhor colher

Solo