Legado
A minha geração já nasceu com a Liberdade como
um direito adquirido. Não sabemos, nem mesmo agora, o que significa realmente
não a ter. Não sabemos. Por mais relatos históricos que ouçamos, por mais que
possamos ler sobre aqueles 41 anos (quase a minha idade...), por mais
documentários que vejamos, não sabemos. Porque não os vivemos, não os sentimos,
não os sofremos... Nem festejámos ou sentimos a emoção desta conquista. A
Liberdade foi-nos "simplesmente" legada. Por isso é ainda mais
importante que a valorizemos. Porque nos abriram o caminho, nos facilitaram a
existência e a convivência, nos permitiram ter hoje a vida que temos. Mas o
exercício de qualquer direito tem como contrapartida responsabilidade e
responsabilização. E temos todos, cada vez mais, a imensa responsabilidade e o
desafio, cada vez maior no mundo como hoje o conhecemos, de não permitirmos que
este direito individual seja usado de forma coletivamente abusiva, opressiva,
humanamente inadmissível, sobre o outro. Porque vai existir sempre quem exceda
os limites, quem se exceda... Quem ache que excede os outros. E a única forma
de evitarmos que os excessos se multipliquem no pior dos sentidos é cada um de
nós concentrar-se no lado bom da história de cada um e da História, nacional e
universal. Em analisar bem, em dizer bem ou em criticar para o bem, em conviver
bem, em decidir bem, em fazer o Bem, sem olhar a quem. Sem ingenuidade, com
inteligência, sem maldade mas sabendo distinguir o trigo do joio, sem sujeição ou manipulação,
com princípios bem definidos e defendidos, incorruptíveis. Afinal, não foi com
falinhas mansas que chegámos até aqui. Foi com uma determinação, uma coragem e
uma hombridade que devemos agradecer e honrar de verdade para sempre. Não
apenas com comemorações anuais ou com discussões superficiais mas, diariamente,
com as nossas próprias convicções, posturas e ações.
Sofia Cardoso
25 de abril de 2020
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