Em que estás a pensar?


A mim ainda ninguém me perguntou em que estou a pensar mas não julguem que eu não tenho cá as minhas ideias e olhem que nestes últimos dias tenho refletido bastante… Então cá vai o meu ponto de vista fofinho, só para desanuviar:
“Covidizer” que anda para aí um bicharoco que não se deixa ver mas parece que tem a mania que é grande, forte e mete medo a toda a gente… E estou aqui num grande dilema moral entre considerá-lo uma ameaça ou um aliado, ainda que muito desonesto e desleal. Calma, não se zanguem já comigo e deixem-me explicar…!
É que a minha vida também tem mudado muito nos últimos dias, só que para melhor (confesso, muito envergonhada, mas é verdade…)
Quarentena? Fechada em casa vivo eu há 2 anos e mesmo assim sou muito mais feliz do que muitos que vivem confinados a uma gaiola (e fechada, imaginem!) Eu sempre andei pela casa mas os quartos das manas e a sala sempre me foram vedados. Sabem, é que tenho uma apetência especial para roer fios e até aqui só o quarto da mãe era seguro. Por isso, os meus ralis e saltos olímpicos dão-se entre a cozinha (onde à noite durmo de porta fechada ou não deixaria mais ninguém dormir…), hall, corredor a fora e suite da mãe (o que já é uma alegria, mesmo não podendo escavar – uma frustração para a minha condição mas enfim…) Só que depois há aquele dia da semana (seria hoje mas o bicharoco salvou-me desta tortura semanal) em que cheia de desculpas e de beijinhos uma delas me enfia dentro da gaiola (subornando-me com uma língua-de-gato, está claro!), e a fecha quase o dia todo. Lá tenho eu que entrar em modo (quase) hibernação, só porque a “gaiola XL” delas também tem que ser limpa e a senhora que cá vem não me conhece bem. É uma tristeza, juro que não sei como é que os outros aguentam dias assim. A sorte é que durante o dia estou muito sossegadinha e só mais à tardinha/noite é que me dá para a brincadeira.
Ora, acontece que os últimos dias têm sido (para mim) de pura libertação. Há dois dias, como que por milagre, a porta da sala abriu-se sem a habitual exclamação «não!» antes de se voltar a fechar. E não é que não se fechou de todo?! Espreitei, hesitei como que a pedir autorização, avancei pata ante pata e ninguém me impediu. (Sim, nós também sabemos andar, quando não estamos muito à vontade com uma situação). Melhor, pareciam chamar-me! «Estarei a delirar?» – pensei. Só que não. E a melhor parte foi quando voei até ao sofá e me aninhei para receber «mimo» (o meu nome, a propósito, antes de perceberem que eu sou uma e não um, o que é comum na minha espécie. Diz que na vossa também acontece, não é?!)   
Pois é, a minha miúda do meio foi uma querida e resolveu readaptar a sala só para que eu pudesse fazer parte do convívio familiar nesse espaço também. Zero fios à vista (temos pena) e vários metros quadrados para as minhas corridas e saltos de alegria.
Tenho que vos dizer que não percebo quase nada da situação que estão a viver, ainda que respeite muito porque adoro a minha família e já percebi que o assunto é sério, até porque aquele senhor simpático que aparece à noite a apresentar o telejornal adora animais e ultimamente tem sempre aquele ar de “quem te avisa teu amigo é…” Mas estou nas nuvens por ter as minhas três miúdas o dia inteiro em casa, com tempo para brincarem comigo e me acarinharem (sabem lá vocês o que é estar no sofá a receber massagens enquanto elas veem televisão ou jogam um jogo?!) e tenho a certeza de que de alguma forma assim também as estou a ajudar, não protegendo-as do bicho mau que anda por aí à solta porque infelizmente não sou capaz, mas dos sentimentos menos bons que estas coisas dos humanos podem fazer surgir.
E assim, todas juntas, vamos ultrapassar melhor esta fase até ao dia em que elas puderem voltar a sair.
Sofia Cardoso
18 de março de 2020

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