Pormenores
Quando sujeitos aos maiores e inesperados embates da vida, temos apenas
duas extremas opções: ou nos entregamos ou resistimos com as armas que temos. E
quando não temos muito, aprendemos e habituamo-nos a defender-nos com o que
estiver mais à mão. E mais à mão, pode estar qualquer coisa. Há tanta frase
feita a propósito e tanta gente a saber pregar tão bem que a felicidade está
nas pequenas coisas… Mas quantos, verdadeiramente, darão por elas no dia-a-dia e
as gozarão?
É muito fácil identificá-las, relativamente acessível escrever sobre elas
e dificílimo ser feliz através delas.
Tenho tentado afincadamente, desde logo porque não vivo de falsas frases
feitas atiradas ao ar. Prefiro fazer delas verdadeiras formas de viver com os
pés na terra.
Para mim, as tais “pequenas coisas” nem sequer são coisas (palavra
materialista que vicia logo tudo…) São pormenores (palavra tão simples e tão rica
em significado…) Feitos de gestos, de pessoas, de momentos… Um sorriso, um
elogio, uma mensagem, um carinho, uma refeição. Uma paisagem, uma conversa, uma
companhia, uma recordação. Um trabalho, uma música, um passeio, uma emoção… Entre
dezenas de outros despretensiosos apontamentos de vida, estes têm sido a minha
arma secreta, a um ponto que nem eu julgava possível.
O que tenho conseguido? Viver melhor. Simples. O que tenho aprendido? Que
é mesmo verdade que quanto menos se tem menos se espera ou exige. Mais simples
ainda.
Não é só uma questão de hábito. É, sobretudo, uma forma inteligente de
defesa que acaba por funcionar como combate à adversidade. Resulta! E se não
me levar onde quero chegar, pelo menos obriga-me a, pelo caminho, tudo melhor apreciar.
Sofia Cardoso
04 de outubro de 2015
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