Dádiva

É curioso como, por vezes, quando o nosso ego não está nos melhores dias, ao invés de nos focarmos ainda mais nele, olhamos antes em redor.
Pode até ser uma forma cobarde de escapar à nossa realidade mas se isso fizer a diferença na realidade dos outros, melhor assim.
Foi mais ou menos isto que me impeliu, há quatro meses, de me lançar num desafio que há muito ansiava abraçar, apesar do receio que ao mesmo tempo me continha. Tornar-me dadora de sangue. Mais-valia a acrescentar à potencialidade de vir a ser dadora de medula óssea, causa a que já me associei há uns anos.
Felizmente, no que toca às dádivas de sangue, hoje em dia as recolhas que lhe estão associadas são sobejamente divulgadas, talvez porque as reservas estejam também sobejamente necessitadas. Razão mais do que suficiente para que pessoas saudáveis entre os 18 e os 65 anos, pesando mais do que 50 kg se proponham contribuir.
Eu própria, não muito amiga de agulhas e ambientes hospitalares, que me dão inclusive alguma náusea, tinha algum receio, nomeadamente, de me sentir mal ou mesmo de cair para o lado…
No entanto, pesando a probabilidade menor de isso acontecer com a enormidade da vantagem que a três outras vidas isso possa trazer, realmente não há que temer e há que avançar sem mais pensar.
Fi-lo, como disse, há quatro meses e, de facto, foi tão simples e tão pouco demorado que a partir daí torna-se quase imperativo repetir.
É real a necessidade de repor continuamente as reservas, como é real a certeza de que apenas uma dádiva pode salvar três vidas.
A mim, isso deu que pensar e quando me apareceu uma recolha à porta de casa, a um sábado, num dia em que não tinha nada programado e estando eu em condições de o fazer, percebi que não tinha mais desculpa para não tentar.
Hoje, estou muito orgulhosa de o ter feito por poder, assim, comprovar o quanto na realidade não custa nada e de verificar, com muito agrado, que o serviço funciona tão bem que, a partir da primeira recolha, não só recebemos rapidamente o resultado das análises efetuadas posteriormente ao nosso sangue, como somos informados adequada e atempadamente do momento e local em que poderemos voltar a contribuir.
Por isso, lá fui, pela segunda vez, ao mesmo local, contando com o profissionalismo e simpatia da mesma equipa, contribuir com a mesma facilidade e hombridade.
Posto isto, só espero que a vida me dê saúde para o meu sangue continuar a doar, já que me sinto verdadeiramente útil, humana e realizada por num pequeno e anónimo gesto poder ajudar quem numa grande aflição se possa encontrar.  









Sofia Cardoso
07 de fevereiro de 2015


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