Braveheart

Dizerem-te constantemente que és forte/corajoso é semelhante a oferecerem-te um doce envenenado. A parte doce é a que embucha o teu ego, quando sentes reconhecido o teu esforço, a tua capacidade de lutar, por alguém que te admira e se orgulha de seres assim. Já a parte envenenada é a que te agonia, quando te faz sentir entre a espada e a parede, por alguém que vê nessa tua capacidade apenas uma facilidade gratuita que quase te obriga a continuar a aguentar tudo sem te queixares.
A forma como o encaras quando o ouves, se como elogio reconfortante, se como constatação intimidante, depende obviamente de quem to dirige e do tom com que o faz. E depois também da forma como o interpretas. É fácil fazer a distinção e habituas-te facilmente à interpretação.
Seja como for, não te iludas. Por mais que te sintas forte/corajoso no melhor dos sentidos, não és, nem nunca serás o Rambo. Lamento informar-te que ele não existe.
E nem vale a pena tentares sequer aproximares-te da pele fictícia dele e armares-te de todas as maneiras, apetrechares-te com todo o tipo de armamento. Primeiro, porque tudo isso te vai impedir de ver bem o inimigo, depois porque tudo isso te vai pesar bastante e, por fim, simplesmente, porque de nada te vai adiantar.
O segredo é seres quem és e buscares a força que vem de dentro, lutando com a maior de todas as armas: a confiança que tens em ti e juntá-la à certeza de que não há adversidade que dure para sempre.
Só que essa confiança que te dará força não faz de ti invencível, nem melhor do que ninguém e muito menos te pode fazer sentir que és obrigado a suportar tudo. Tens, como toda a gente, os teus limites, bem como o direito de fraquejar e até de ao comprido te estenderes, se disso precisares.
Só não desistas… Ser forte/corajoso é qualidade que não tem que ser inata, pode ser conquistada, trabalhada, não como uma obrigação mas como uma mais-valia. Deves saber render-te como forma inteligente de defesa para parar, descansar, recuperar e voltar a lutar. Nunca te sintas menor por fraquejar. Só nunca deixes de confiar que te consegues (e deves!) levantar.


Sofia Cardoso
27 de agosto de 2015

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